quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O rasgar de vestes















  Durante o período que o país está distraído, na "sorrapa" silenciosa dos gabinetes no parlamento "cozinhava-se" nova lei para o financiamento dos partidos. Todos os partidos estiveram representados e participaram nesta legislação pouco clara. Nada previa que este "caldo" legislativo acabasse com a receita exposta na comunicação social. O que parecia ser algo mais ou menos despercebido acabou por gerar a indignação, desconforto e desconfiança na classe política. 
 
  
 Após a opinião pública obter conhecimento desta negociação não demorou muito aos partidos se defenderem.  CDS e o PAN preferiram distanciar da proposta de lei e votaram contra o diploma. BE e PCP hastearam velhas bandeiras da recusa de velhas propostas que foram apresentadas.anteriormente. PS e PSD preferem falar de consensos. São os únicos cuja ausência de vergonha lhes poupa ao choro de arrependimento. Os restantes apenas a hipocrisia lhes sobra para apresentar como desculpa.

   Ora vejamos bem a estória. Os partidos ou têm uma realidade desproporcional, ou então contam com a modéstia e humilde realidade oferecida por os seus militantes. Uma sociedade informada como a de hoje, onde as redes sociais são barómetros dos estados anímicos, como é possível julgar que se poderia guardar "ade interno" a informação sobre o novo diploma? Não será que os partidos partiram de um princípio em que do lado de fora das paredes das sedes existe apenas surtos de ignorância. Um princípio da presunção demasiado fora da realidade.

   Logo após ter caído nas redes sociais BE e o PCP rasgaram as vestes e o CDS achou-se paladino da democracia.  O BE demonstrou a vontade de rever novamente o projecto de lei que o próprio aprovou mantendo a sua imagem do partido que da transparência. Acabou por abrir a porta a desculpas que revelam desconhecimento do significado de demagogia e de transparecia. 

  Não é defender posições politicas passadas que muda a sua posição de hoje. Não está em causa o projecto de lei, que pode ser sempre susceptível de várias leituras. O que está em causa é a forma como foi negociado e decidido. Foi um processo vergonhoso onde só se ausenta o PAN, que se afastou por considerar um processo opaco. Mesmo o CDS, apesar de ter rejeitado assinar tinha conhecimento daquilo que estava em cima da mesa.

  O que aconteceu não ajuda à visão do sistema politico descredibilizado. Os partidos que participaram nesta situação não perdem tempo em deixar escapar o estigma social nos partidos, e na própria democracia. Foi uma brecha aberta aos discursos populistas e anti-partidários. 

    A forma de secretismo e exclusão utilizada para chegarem a um consenso numa lei que beneficia todos foi o problema, a solução não é rasgar vestes.  Reuniões à porta fechada, secretismo nas decisões e falta de transparência bloquearam de imediato qualquer opinião favorável sobre o tema. A indignação surge pela forma como foi decidido e numa altura em que as pessoas estão mais sensíveis à época abstraídas dos acontecimentos a nível político. Não foi uma decisão por coincidência, foi com intencionalidade.

   Não vale a pena rasgar as vestes, nem mesmo o CDS, que apesar de por não assinar o acordo aceitou que as regras fossem as menos transparentes possíveis. Foi um processo lamentável, pouco democrático e que deve encher de vergonha quem representa a democracia. Todo este processo merece o repúdio pela ousada falta de escrutínio premeditado por parte daqueles que julgaram que por detrás do biombo conseguiriam fazer passar este dossier. É nesse aspecto que os partidos são culpados do descrédito em que a democracia vive.

   Talvez esteja na altura das regras mudarem e uma nova vaga democrática e partidária surgir. E este foi um dos motivos.

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